domingo, 29 de maio de 2011

Junho da democracia




A jovem democracia espanhola completa 34 anos neste mês de junho; guerra civil e ditadura franquista são temas de obras literárias

As grandes manifestações populares que marcaram a última semana na Espanha são fruto de uma jovem democracia, conquistada após a longa ditadura de Francisco Franco em 15 de junho de 1977, quando se realizaram as primeiras eleições após a morte do generalíssimo. Ou seja, apenas 34 anos contra mais de 40 sob um dos mais sangrentos governos do século passado que se tem notícia. Iniciada com o golpe que começou no Marrocos em julho de 1936 e chegou à Espanha no dia seguinte, a longa noite espanhola resultou numa guerra civil sem precedentes, que matou meio milhão de pessoas e levou igual número ao exílio. Seu governo namorou descaradamente com o fascismo e buscou apoiou no imperialismo norte-americano nos anos da Guerra Fria. O poeta García Lorca foi uma das primeiras vítimas dessa ditadura. Pablo Picasso imortalizou seu horror no quadro Guernica, uma das muitas cidades bombardeada pelas forças franquistas.
O impacto da guerra civil espanhola foi tão cruel que dividiu famílias entre nacionalistas e republicanos; comunistas e antoi-comunistas, os que defendiam os interesses da Igreja e os que tinham ojeriza a homossexuais – um caldeirão tão denso de conflitos que só muito recentemente – em 2007 – começou a ser quebrado finalmente o pacto de olvido (ou pacto do esquecimento), quando foi aprovada uma nova Lei da Memória Histórica, que condena formalmente a ditadura de Franco e proíbe o uso de símbolos de seu governo, além de determinar a remoção de monumentos erguidos para homenageá-lo. Um desses monumentos, imenso, que levou 18 anos para ser construído e pode ser visto ao longe, da estrada que vai para Madri, é o Vale dos Caídos, onde estão enterrados nacionalistas mortos na guerra, o próprio Franco e também republicanos – muitos deles, prisioneiros, foram obrigados a escavar a pedra para a construção do memorial, sendo contaminados e mortos pela inalação da sílica desprendida nas escavações.
Nos últimos anos, a literatura e a história têm se debruçado sobre esse longo e triste período. Pelo menos dois bons livros estão disponíveis: O Retorno, de Victoria Hislop (foto), ao regatar a vida de uma família no período, passando pelos costumes, tradições e a bela cidade de Granada, com o lindíssimo Alhambra, palácio árabe, e O Tempo entre Costuras, de María Dueñas, um retrato que parte da trajetória de uma humilde costureira para revelar casos de intriga e espionagem durante a guerra civil. Vale a leitura, vale a democracia. Ou, como gostam os espanhóis, ¡Vale!

Leia em Poemas do Tempo a homenagem ao poeta García Lorca

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