domingo, 22 de maio de 2011

A voz dos catadores de lixo

O professor e historiador José Amilton de Souza, coordenador do curso de História da Fundação Santo André, lança nesta quarta-feira, durante a abertura do XI Congresso de História do ABC, o livro Catadores de Lixo: narrativas de vida, políticas públicas e meio ambiente. É o resultado de um trabalho de cinco anos de pesquisas, reflexões e entrevistas com catadores e catadoras de lixo em cidades brasileiras, especialmente Santo André. Ao abordar essa atividade tão importante dos que sobrevivem do lixo e colaboram para sua reciclagem e a falta de compreensão da sociedade - que parece ignorar suas existências, condições de vida e trabalho - o professor aprofunda questões que passam pelo espaço e poder público, consumo, meio ambiente e economia solidária, bem como o sentimento de identidade destes trabalhadores. Para José Amilton, doutor em História pela PUC-SP, o Grande ABC caminha bem em pesquisas e trabalhos históricos, mas carece de financiamento para poder desenvolver ações sistemáticas que enfoquem lutas, grupos sociais e o cotidiano dos que fizeram e fazem a história da região.

Memória e Sentimento - O sr. lança nesta semana, na abertura do congresso de História do ABC, o livro “Catadores de lixo: narrativas de vida, políticas públicas e meio ambiente”. Como foi o trabalho realizado para chegar à obra e por que o tema foi escolhido?
José Amilton - Foi um trabalho exaustivo de cinco anos de pesquisa, especialmente na coleta de depoimentos de catadores e catadoras de materiais recicláveis na cidade de Santo André e região do ABC paulista. Também fizemos muitas horas de pesquisa no Arquivo e Museu de Santo André, no Banco de Dados do jornal Diário do Grande ABC, na Biblioteca das câmaras Municipais da região do ABC paulista. Muita leitura, reflexão. Foi um intenso trabalho de observação nas ruas de muitas cidades brasileiras, especialmente a tomada dos depoimentos dos catadores e catadores na cidade de Santo André por quatro anos, à noite principalmente no Centro e, durante o dia, fazendo a pesquisa na rua, sentado na calçada para escutar o que os catadores tinham a dizer de suas experiências de vida e de trabalho no espaço das ruas e becos da cidade.







Memória e Sentimento - De que maneira os três itens destacados – narrativas de vida, políticas públicas e meio ambiente – se correlacionam?
José Amilton - Existe uma articulação entre esses três itens no livro na medida em que os percebemos (os catadores) como sujeitos sociais que têm uma história de vida e fazem do espaço da rua o lugar de trabalho e de oportunidade de continuar lutando pela sobrevivência imediata, ao mesmo tempo em que coletam restos descartados pelos moradores da cidade e necessitam destes restos para a sobrevivência. A questão ambiental está no cerne desta dinâmica de nossa sociedade contemporânea consumista e na grande maioria das vezes os catadores parecem não pertencer a esse planeta Terra, porque não se percebem como parte integrante da natureza enquanto humanos. Eles têm ser respeitados enquanto trabalhadores, e seu trabalho é tão digno quanto os das mais variadas profissões e afazeres... Em relação à política pública, na maioria dos casos é a negação destes sujeitos como trabalhadores da cidade, assim como a falta de políticas públicas para que, de maneira mais pronunciada, estas pessoas façam parte da agenda das políticas públicas das cidades brasileiras.

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