domingo, 19 de junho de 2011

Acervo Brasil Nunca Mais é repatriado para o Brasil








Iniciativa de religiosos iniciada no período da ditadura militar brasileira reúne um milhão de fotocópias de processos do STM e poderá ser consultada pela internet


A semana que passou marcou o repatriamento do acervo Brasil: Nunca Mais, projeto desenvolvido clandestinamente no período da ditadura militar brasileira (entre 1979 e 1985) sob coordenação dos religiosos de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns (à época arcebispo) e Jaime Wright, pastor presbiteriano. O acervo, que reúne um milhão de fotocópias de 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM) e revela a extensão da repressão política daquelas décadas, foi enviado pelo arcebispo ao Conselho Mundial das Igrejas (CMI) nos Estados Unidos como medida de segurança e agora finalmente retorna ao Brasil. O conteúdo deverá em breve ficar disponível na internet, pela página do Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Dom Paulo também é autor do livro Brasil: Nunca Mais, que traz relatos sobre a violência do período e nomes de envolvidos em casos de torturas. Na ocasião em que desenvolviam o projeto, os religiosos ficaram sabendo que os processos da Justiça Militar poderiam ficar até 24 horas com advogados dos envolvidos e realizaram fotocópias dos documentos, enviados aos EUA por precaução. Um kit dessas cópias chegou a ser colocado para pesquisa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 1988, mas parte das páginas de alguns processos desapareceram, principalmente as que continham nomes de torturadores.
O projeto de repatriamento é resultado de seis anos de trabalho. São 543 rolos de microfilmes, cuja impressão totaliza 12 volumes de 6 mil páginas. O projeto Brasil Nunca Mais Digital é iniciativa do Ministério Público Federal, Armazém Memória e do Arquivo Público do Estado de São Paulo, com o apoio do Arquivo Nacional, da OAB/RJ, do Center for Research Libraries (EUA), do Conselho Mundial de Igrejas (Suíça) e do Instituto de Políticas Relacionais.
Para mais informações acesse o site oficial do projeto: http://www.prr3.mpf.gov.br/bnmdigital




Já o livro Brasil: Nunca Mais está na 37ª edição. Lançado em 15 de julho de 1985, foi reimpresso mais de 20 vezes nos dois primeiros anos. Para os representantes de entidades ligadas aos direitos humanos presentes na solenidade que marcou o repatriamento dos documentos, no último dia 14 em São Paulo, o acesso ao arquivo é passo fundamental para que as novas gerações possam ter conhecimento desse obscuro período, apropriadamente batizado de “anos de chumbo”.
Embora o ano de 1985 seja considerado como o que encerrou o período militar no Brasil, pouca gente sabe que a espionagem de agentes de antigo Deops continuou ativa em pleno retorno democrático, como se pode ler na matéria abaixo. O arquivo do Deops, inclusive, também está disponível para consulta no Arquivo Público do Estado de SP que, além da página na internet, possui boa estrutura para pesquisas em seu espaço físico, à avenida Cruzeiro do Sul 1777, de terça a sábado – fone 2089-8100 ramal 8151.