domingo, 12 de junho de 2011

Após cem anos, um jovem Teatro Municipal














Teatro Municipal de SP é reinaugurado após nova reforma; em 12 de setembro de 1911, sua abertura causou o primeiro congestionamento de SP

A reabertura do Teatro Municipal, no último final de semana, é uma oportunidade de viajar pela história de São Paulo a partir de um de um de seus mais belos marcos. Afinal, o teatro completa 100 anos no próximo 12 de setembro e, embora já tenha passado por duas reformas anteriores, só agora, segundo os organizadores, conseguiu recuperar brilho semelhante à inauguração, já que detalhes de seu acabamento, apagados pelo tempo, puderam ser restaurados.

O Municipal foi idealizado nos moldes dos melhores teatros do mundo para atender principalmente à ópera, a primeira forma artística e de lazer típica da burguesia e em virtude do grande número de italianos que viviam em São Paulo. Para criá-lo, a Câmara Municipal desapropriou, em 1903, o terreno do Morro do Chá. Cláudio Rossi foi o autor do projeto; Domiziano Rossi fez os desenhos e Ramos de Azevedo foi o responsável pela construção.

Os materiais também foram encomendados pelo escritório Ramos de Azevedo, em vários países. A armadura de ferro teria vindo de Düsseldorf, o ferro artístico em Frankfurt (ambas na Alemanha);, o bronze artístico em Berlim, Paris e Milão; os mosaicos vieram de Veneza, os mosaicos de paviment, de Nova York e Berlim e os mármores de Siena, Verona e Carrara, na Itália.

Após a reforma, os 1,5 mil lugares foram mantidos, com acréscimo de seis assentos para obesos e quatro lugares para cadeirantes. O palco foi o único a passar por uma mudança mais intensa, para modernização. Segundo Lilian Jaha, arquiteta do Teatro Municipal, as paredes do fosso – onde costuma ser instalada a orquestra – recebeu inclinação para melhorar o retorno do som para o palco.

A iluminação e a infraestrutura do palco também passaram por reforma. Os espetáculos a serem apresentados no teatro contarão com um sistema computadorizado de som e terão mais liberdade no cenário graças ao reforço de varas que aguentam até 900 kg. A capacidade das anteriores era de até 200 kg. A programação da temporada 2011 do Teatro Municipal de São Paulo já foi divulgada e pode ser consultada no site do teatro.


Brilho e fotografias a magnésio - Sua inauguração, segundo jornais da época, deu origem ao primeiro congestionamento de SP, com mais de cem carros. A abertura, com a ópera Hamlet, de Ambrósio Thomas, é descrita pelo jornal Gazeta Artística: "Esteve deslumbrante a inauguração do Teatro Municipal pela companhia do barítono Titta Ruffo. Desde que anoiteceu o teatro ficou interior e exteriormente iluminado. Nas vizinhanças via-se numeroso público, carros e automóveis, com pessoas da melhor sociedade, que admiravam o belíssimo panorama. O Viaduto estava repleto. Pouco depois das 20 horas começaram a chegar os espectadores, todos em traje de rigor. A apresentação terminou às 12 horas e 25 minutos da noite, no meio ao grande entusiasmo do público. No interior do teatro foram distribuídas riquíssimas 'plaquettes', contendo a descrição e o histórico do teatro até sua inauguração. Durante o espetáculo foram tiradas muitas fotografias a magnésio. No jardim permaneceram numerosas famílias até tarde da noite".


Em 1922, o teatro sediou a Semana de Arte Moderna, que revolucionou o panorama artístico brasileiro. Desde sua inauguração, o Municipal foi palco para artistas nacionais e internacionais, como os cantores líricos Enrico Caruso e Maria Callas, as bailarinas Isadora Duncan e Anna Pavlowa, os dançarinos Nijinski e Baryshnikov, as atrizes Itália Fausta e Clara Della Guardia e os músicos Ravi Shankar e Duke Ellington. "Seu efeito simbólico arquitetônico e urbanístico externo se equiparava ao prodigioso poder de catalisação cultural que emanava internamente do seu palco. Nesse sentido, o teatro atuava como uma caixa de emissão e repercussão de símbolos em igual", analisou o historiador Nicolau Sevcenko.

Foto: Teatro Municipal,1920/Divulgação

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