domingo, 26 de junho de 2011

Paz para as Avós da Praça de Maio







Longa jornada: avós de maio seguem na busca por filhos e netos desaparecidos na ditadura argentina




Elas buscaram – e continuam buscar - por seus filhos e netos, vítimas da ditadura argentina. E agora podem, merecidamente, ver seu trabalho reconhecido pelo prêmio Nobel da Paz; candidatura foi lançada na última quinta

As avós da Praça de Maio, na Argentina, poderão concorrer ao Prêmio Nobel da Paz. A apresentação da candidatura foi lançada na última semana pela ONG ´Avós com a Paz´com o intuito de que seja reconhecida a luta destas mulheres para encontrar os filhos assassinados durante a ditadura naquele país (976-1983) ou, como vem acontecendo, para pelo menos poder abraçar seus netos, muitos deles adotados ainda bebês por representantes do mesmo regime que assassinou seus pais.
Na cerimônia de lançamento da candidatura esteve presente a presidente das "Avós", Estela de Carlotto, assim como uma das netas resgatadas das mãos da família do militar que a roubou após assassinar seus pais, Victoria Montenegro. Estela disse que o Nobel seria uma "grande alegria", mas o melhor prêmio são mesmo cada um dos 103 netos já encontrados, embora ainda falte localizar outros 400.
"A tarefa é difícil e com toda certeza, quando todos forem localizados, nós já não estaremos aqui para vê-lo, mas deixaremos o testemunho aos nossos outros filhos e netos porque isto é uma luta coletiva", afirmou. Para ajudar no trabalho, as avós criaram o Banco Nacional de Dados Genéticos, onde estão armazenadas as amostras de sangue de todas as avós de crianças desaparecidas, para permitir a investigação dos casos que surgirem no futuro, inclusive após a morte delas. Estela, de 80 anos, continua à procura de seu neto, que neste completaria 33 anos e a quem sua filha Laura, assassinada pelos militares, batizou como Guido. Uma busca que, é fácil saber, não vai cessar até sua morte. "Nós avós, cada vez estamos mais velhinhas, mas, embora caminhemos devagar, o coração e a cabeça estão fortes. A tenacidade de uma avó ou de uma mãe não se perde com o passar dos anos", garantiu.
Os netos já localizados abrem espaço para a esperança no coração destas mulheres. É o caso de Victoria Montenegro, que conheceu o que aconteceu com seus pais biológicos já na idade adulta. Victoria nasceu em 31 de janeiro de 1976. Treze dias depois do sequestro de seus pais, e posterior assassinato, ela foi adotada por um coronel do Exército - o mesmo que ordenou a morte de seus pais. Segundo contou na última quinta-feira, o pai adotivo a fez acreditar que o tema dos desaparecidos era uma farsa e que as Avós da Praça de Maio eram "velhas loucas que queriam destruir sua família cristã".
A verdade sobre sua origem só chegou aos 25 anos. "Graças às Avós a memória dos meus pais continua viva, apesar da existência de um regime horrível que tentou eliminá-los para sempre. A elas devemos o que somos", afirmou. A ditadura militar da Argentina resultou no desaparecimento de mais de 30 mil pessoas. Quinhentas crianças foram sequestradas ou nasceram no cativeiro de seus pais.
Para conhecer melhor o trabalho das Avós acesse www.abuelas.org.ar


Leia em Eu Conto o texto Alvo Anoitecer, sobre uma avó muito especial