domingo, 21 de agosto de 2011

Manuscritos na net

O Arquivo Público de SP oferece ao internauta uma nova exposição virtual: Manuscritos na História, que objetiva apresentar um pouco das mudanças ocorridas nos documentos produzidos desta forma  até esse começo de século 21. Inventários, cartas, ofícios, processos, são alguns dos textos manuscritos que podem ser lidos pelo site do Arquivo. Além disso, também é possível visitar as mostras passadas. Confira no  
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_manuscrito/

Velho Sylvio


Turma da professora Albertina, do segundo ano primário do Grupo Escolar Sylvio Romero, em 1971


A escola Sylvio Romero, uma das participantes do projeto citado abaixo, passou por diversas modificações desde sua criação (veja foto do prédio nos anos 50, da Fundação Pró-Memória de São Caetano). Perdeu muito de sua área verde e ganhou em anexos e salas de aula. Nos anos 70, o grupo escolar era também conhecido por 'Lixão', embora nenhum lixão existisse ali dentro, e o nível de ensino fosse muito bom - a referência, possivelmente, estava relacionada a um aterro que existira próximo. No grupo ministravam aulas professoras como dona Maria Ângela, dona Albertina e dona Maria Esther. Em seu entorno, além da padaria que ainda está lá, na esquina das ruas Vital Brasil com a Castro Alves, ficavam a farmácia do Seu Brás (ou seu Chico, o proprietário mais velho) e a papelaria da família Duran.
Ceolin, Monteiro, Pan, Duran, Alonso, Gallo, eram alguns dos sobrenomes das crianças que estudavam no Sylvio Romero naquele tempo. Há cerca de cinco anos tive o prazer de falar com alunos de novas gerações da escola sobre jornalismo - puro deleite, já que Ferrasoli era também um dos sobrenomes da turma de 1970. E a convite de uma mestra tão querida quanto as do passado, a professora Aparecida Sasso que, ex-estudante da casa, ainda leciona ali.

A história no fundo do baú

São Caetano inaugura nesta quinta a exposição do projeto Vamos Contar Nossa História, que envolveu estudantes de seis escolas de ensino fundamental da cidade. As crianças desenvolveram atividades para responder a questões como 'Do que minha mãe brincava quando era pequena?', Qual foi a profissão do meu avô?; ou seja, foram estimuladas a buscar sua própria história ao desvendar a de seus antepassados, resgatando nomes, tempos, características e culturas.
A exposição, no Museu Municipal, poderá ser visitada até 23 de setembro, de segunda a sexta-feira (das 9h/17h) e aos sábados (9h/15h). O Museu fica na rua Maximiliano Lorenzini 122, no Bairro da Fundação. As escolas participantes são as EMEFs Sylvio Romero, Eda Mantoanelli, Dom Benedito, Elvira Braido, Luiz Capra e Décio Gaia. 

domingo, 14 de agosto de 2011

Mês de sobressaltos

Agosto costuma ser mês de grandes sobressaltos. Num agosto começou a ser construído o muro de Berlim; noutro, no Brasil, um presidente se matou e outro preferiu a renúncia. Agosto já deu nome a livro e a poema, e esse que segue é do poeta Ferreira Gullar

Agosto 1964
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,

mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilazes, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,

que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira

As vozes dos operários suspensas nas paredes


Vazamento no Congresso leva a descoberta de mensagens deixadas pelos trabalhadores no ano de 1959

O destaque não foi grande, mas a imprensa noticiou na semana que passou a descoberta de mensagens deixadas pelos operários que construíram o Congresso Nacional. Na opinião da autora deste blog, um tesouro precioso, não só porque muito distante dos discursos vazios que por vezes enchem aquela casa, mas também porque, como garrafa no mar, busca um destinatário inexistente mas que pode fazer toda a diferença. Singelas e esperançosas, as frases são datadas de abril e setembro de 1959, poucos meses antes da inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960

Os escritos foram descobertos por causa de um vazamento no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Os operários deste tempo encontraram as mensagens de seus colegas do século passado, escritas nas paredes do local onde estava o vazamento. Aqueles que fizeram as frases possivelmente não imaginavam que seriam lidas, já que o local é fechado, sem circulação de pessoas – pelo divulgado, só duas delas estão assinadas. Talvez, inclusive, seus autores (como seria bom conhecê-los hoje, não?) tivessem medo que fossem lidas naquele momento. Deixaram, portanto, suas vozes suspensas nas paredes, uma mensagem para os brasileiros do futuro. Veja abaixo as frases encontradas:

"Se todos os brasileiros fossem dignos de honra e honestidade, teríamos um Brasil bem melhor"

"Só temos uma esperança, nos brasileiros de amanhã" 22/4/59

"Brasília de hoje, Brasil amanhã"

"Amor palavra sublime que domina qualquer ser humano" Nelson

"Saudade: palavra que nunca morre, quando morre fica arquivada no coração"

"Que os homens de amanhã que aqui vierem tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra" José Silva Guerra 22/4/59

domingo, 7 de agosto de 2011

Carros antigos na bodega

Comer e beber bem, visitar as parreiras e o processo de fabricação de vinho, degustar as variedades produzidas são algumas das opções oferecidas pelas bodegas uruguaias. Na Bouzas, além desses prazeres, dá ainda pra fazer uma rápida viagem no tempo, a começar pelo vagão de trem de 1929 em exposição ao ar livre ou visitando o galpão em que estão cerca de quatro dezenas de modelos de veículos, entre motocicletas e automóveis (foto). Ali estão modelos antigos (a partir dos anos 20) preservados e, segundo o guia, ainda em perfeito funcionamento.

No estádio do Centenário, um especialista em futebol brasileiro


Gerardo, o guia faz-tudo, é a verdadeira enciclopédia do futebol brazuca em terras uruguaias

O estádio Centenário, localizado em Montevidéu, tem um museu do futebol instalado em dois pavimentos, em que estão principalmente recortes de jornais e grandes fotos dos momentos mais importantes disputados pela seleção uruguaia - entre elas, claro, em tamanho gigante, a vitória sobre o Brasil em 1950 no Maracanã. Como muitos outros locais e serviços no País não tem nada de sofisticado ou moderno, mas cumpre muito bem seu papel informativo. Mais: cumpre mais. Porque, embora não possa ser comparado a museus do futebol pelo mundo - como do Boca, na Argentina; Santiago Bernabéu, na Espanha, ou mesmo o museu do Pacaembu, em SP - possui uma atração inesperada. É Gerardo, o guia, que, há três anos na função, sabe absolutamente tudo sobre futebol.... no Brasil!
Ele conta que, de tanto receber visitantes brasileiros aprendeu um pouco da geografia do País a partir dos times existentes nas cidades e campeonatos disputados. Sabe, por exemplo, que na 'república de Ribeirão Preto' (sim, em referência a Antonio Palocci...) os times principais são Comercial e Botafogo de Ribeirão Preto; que em Natal o clássico é ABC x América; conhece a rivalidade dos campineiros Guarani e Ponte e Preta e que o América mineiro leva o nome de coelho. O que não vem dos informantes que visitam o museu Gerardo aprende acompanhando o Globo Esporte, quando assiste até mesmo as disputas da série B.
Atencioso, ele leva os visitantes até o campo, ajuda a operar a máquina de café e ainda trabalha na lojinha do museu, cujo acervo reúne também informações sobre o projeto original do estádio, sua inauguração, móveis da antiga Associação Uruguaia de Futebol e tela do artista uruguaio Carlos Villaró. Verdadeira enciclopédia do futebol brazuca nos pampas, Gerardo não se faz de rogado quando questionado sobre o nome da real enciclopédia nacional:
'Nilton Santos', responde, sorrindo.

Uruguai, julho 2011



País das grandes planícies festeja bicentenário com o troféu da Copa América; ao olhar estrangeiro, a sensação de um povo carregado de esperança








Comemorações na Praça, com a presença de Mujica (de boina)


O Uruguai comemora neste ano seu bicentenário de independencia, e no último 18 de julho (data que dá nome a uma das principais avenidas de Montevidéu) o presidente da república José Mujica participou de solenidade comemorativa na Praça da Matriz. Ao observador estrangeiro, como esta autora, impressionou a absoluta ausência de ostentação, tanto no ato em si quanto na segurança. Caminhando pelo meio do público, ladeado de um pequeno grupo de aliados, Mujica não teve palanque nem foguetório. Igualmente singelas, as placas de reivindicações de aposentados ou em defesa da reforma agrária feitas em folhas de sulfite e escritas `a mão nem de longe lembravam as grandes faixas e balões das manifestações brasileiras contemporâneas. Coincidentemente, neste mesmo dia os jornais uruguaios traziam como manchete a morte do ditador e ex-presidente Juan María Bordaberry (1972-1976), que cumpria prisão domiciliar depois de ter sido condenado pelos crimes cometidos durante seu mandato.

`As vésperas de disputarem a final da Copa América, os uruguaios deram ao olhar estrangeiro a ideia de um país muito parecido com um Brasil dos anos 70, mas, talvez pela disputa próxima nos gramados, talvez pelos novos rumos adotados na política, de um nacionalismo intenso carregado de esperança. Ao menos no futebol, a torcida já deu certo, já que os uruguaios bateram os paraguaios na grande final. Tomara que os muitos ventos que navegam pelo caudaloso Prata tragam também aos habitantes daquele país de planícies sem grandes acidentes geográficos (o morro mais alto ali tem pouco mais de 500 metros de altura) o desenvolvimento esperado. Tomara. Porque assim merece o pequeno vendedor do mercado do Porto, cujo nome não soube mas será sempre o encantador ' Purf' , e toda sua geração.