quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Jornal retrata vida do bancário desde os anos 20


Cedoc dos Bancários de SP, Osasco e região abriga desde o primeiro exemplar da publicação, preciosidade para a imprensa sindical
Poucas empresas ou entidades possuem centros de documentação e memória. A maioria, em geral, sequer tem um espaço destinado a organizar seus arquivos de documentos, fotos, vídeos, CDs. Com isso, uma parte preciosa de sua história, quando não toda ela, vai pelo ralo. A situação é ainda pior quando se trata de organizações que, em algum momento de sua existência, passaram pela mão de interventores, como é o caso dos sindicatos – por propósito ou total desleixo, importantes documentos históricos simplesmente desaparecem nestes períodos.
Uma valiosa exceção, ao menos no que tange à hemeroteca, é o Centro de Documentação do Sindicato dos Bancários de SP, Osasco e região, localizado no subsolo do prédio Martinelli. Embora sem microfilmagem, ali estão todos os exemplares do informativo da entidade a seus associados, desde a criação do boletim Vida Bancária em – pasme! – 1928. São 83 anos de informações que vão muito além da experiência de uma categoria ou de uma entidade sindical: a história brasileira desde os primeiros anos do século 20 e os conflitos que abalaram o mundo, como as guerras, a ascensão do comunismo em Cuba, a divisão promovida pela disputa capitalismo x comunismo. Sem esquecer, claro, fatos que beiram a contemporaneidade, já na virada do novo século, como o movimento pró-Diretas, a guerra no Iraque etc, etc.
 Muitas vezes tenho recorrido a este local, já que sua fonte é única (não há exemplares da Vida Bancária nem da Folha Bancária, nome do boletim sucessor ainda na ativa, em outros centros de referência da memória sindical) e o atendimento precioso. É delicioso, para além dos fatos e informações sobre política e economia, desvendar um passado em que ainda se discutia a chegada da mulher ao mercado de trabalho ou se ofereciam aulas de esperanto. Percebe-se claramente, na linha do tempo, o momento em que os sindicatos brasileiros deixam de ser meramente entidades formais e “amigas” dos donos de empresas para dar início à luta de classes. E, muito mais tarde, pelos caminhos da negociação. Imperdível para os que, como eu, adoram viajar pela memória atemporal.
Bom, agora tenho visitado o Cedoc para buscar informações sobre o Sindicato dos Bancários de Pernambuco. (Peço, inclusive, que, se você, leitor, tiver qualquer informação sobre essa história, que tem origem em 1931, entre em contato comigo). Muito já encontrei ali – o único problema é me desvencilhar das outras tantas histórias registradas, que acabam me enredando para além de qualquer fronteira. Mas esse também já é outro capítulo.... Espero, sinceramente, que esse precioso acervo jamais se perca, e possa, rapidamente, ser microfilmado com segurança para os leitores do futuro.

Um homem centenário numa noite de sábado

E uma história, e outra, e mais um poema....
Poucas pessoas têm a oportunidade de chegar – ou ultrapassar - os 100 anos. Deve surpreender até mesmo a quem chega lá. Outro dia, vivi a experiência de conhecer um homem centenário bem de pertinho – não assim como saber do Oscar Niemeyer, mas lado a lado. Foi numa noite de sábado, numa casa tranqüila e de gente amiga, bom refúgio em qualquer idade. Fiz um poema sobre esse encontro, acertadamente disponível para leitura em Poemas do Tempo.

Militares nas empresas durante a ditadura

São Bernardo abre novo capítulo da história com o relato de trabalhadores e ex-funcionários das múltis no período ditatorial
São Bernardo começou a discutir mês passado a presença de militares em empresas da região durante a ditadura. Felizmente, pude presenciar in loco apenas o final desse cruel relacionamento, embora, como filha de metalúrgico, tenha acompanhado também os momentos mais duros ao longo dos anos 70.
 Mas recordo muito bem que, no final de 1984, quando ingressei na Volkswagen do Brasil como estagiária de jornalismo, a ditadura, em tese, já agonizava (agentes do antigo Deops, porém, continuavam a espionagem, como se pode ler na matéria já publicada neste blog – A ditadura inconformada).  Assim, supreendeu à estudante que eu era o fato de termos de liberar o jornal da empresa (Jornal da Gente) com um coronel, que se reunia com a equipe para aprovar ou não os textos. Ele era uma espécie de chefe do departamento de Relações Industriais (naquele tempo não se usava o ´institucional´), ao qual a Imprensa, vinculada ao depto de Relações Públicas, se curvava - nada podia ´melindrar´ o tal censor.
A história curiosa é que ao final do estágio, quando fui promovida a ´praticante de jornalismo´, fiz uma reportagem sobre velhos trabalhadores que haviam ingressado na empresa em 1968/1969. Obviamente o texto citava fatos do período: chegada do homem à lua, AI-5 etc. O tal coronel (acho que se chamava Amorim) cortou todas citações e, quando fui reclamar que não havia sequer me informado anteriormente, perdi o emprego. A alegação? Corte de vagas, embora não fizesse nem um mês que havia sido promovida e na sequência outra pessoa fosse contratada para o lugar.
Eu já sabia, na época, que a melhor coisa que podia ter me acontecido naquele momento era deixar a imprensa institucional, porque pensava (e ainda penso) que na minha profissão não se aprende completamente sem ter passado pelo jornalismo diário, embora tenha feito grandes amigos na assessoria da VW, convivendo com jornalistas da melhor qualidade. Mais tarde, trabalhando na Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, pude inclusive ver cartilhas que multinacionais produziam para orientar o procedimento "em caso de greve", com determinações que lembravam um estado de guerra, muito distante do respeito à negociação hoje conquistada.
Com certeza, muitos outros relatos virão sobre o tema, em especial daqueles que trabalharam nas múltis durante os anos mais cruéis da ditadura brasileira. Serão novos capítulos de uma longa noite, indispensáveis para o contar da História e – claro – para manter aceso seu lume.