quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Militares nas empresas durante a ditadura

São Bernardo abre novo capítulo da história com o relato de trabalhadores e ex-funcionários das múltis no período ditatorial
São Bernardo começou a discutir mês passado a presença de militares em empresas da região durante a ditadura. Felizmente, pude presenciar in loco apenas o final desse cruel relacionamento, embora, como filha de metalúrgico, tenha acompanhado também os momentos mais duros ao longo dos anos 70.
 Mas recordo muito bem que, no final de 1984, quando ingressei na Volkswagen do Brasil como estagiária de jornalismo, a ditadura, em tese, já agonizava (agentes do antigo Deops, porém, continuavam a espionagem, como se pode ler na matéria já publicada neste blog – A ditadura inconformada).  Assim, supreendeu à estudante que eu era o fato de termos de liberar o jornal da empresa (Jornal da Gente) com um coronel, que se reunia com a equipe para aprovar ou não os textos. Ele era uma espécie de chefe do departamento de Relações Industriais (naquele tempo não se usava o ´institucional´), ao qual a Imprensa, vinculada ao depto de Relações Públicas, se curvava - nada podia ´melindrar´ o tal censor.
A história curiosa é que ao final do estágio, quando fui promovida a ´praticante de jornalismo´, fiz uma reportagem sobre velhos trabalhadores que haviam ingressado na empresa em 1968/1969. Obviamente o texto citava fatos do período: chegada do homem à lua, AI-5 etc. O tal coronel (acho que se chamava Amorim) cortou todas citações e, quando fui reclamar que não havia sequer me informado anteriormente, perdi o emprego. A alegação? Corte de vagas, embora não fizesse nem um mês que havia sido promovida e na sequência outra pessoa fosse contratada para o lugar.
Eu já sabia, na época, que a melhor coisa que podia ter me acontecido naquele momento era deixar a imprensa institucional, porque pensava (e ainda penso) que na minha profissão não se aprende completamente sem ter passado pelo jornalismo diário, embora tenha feito grandes amigos na assessoria da VW, convivendo com jornalistas da melhor qualidade. Mais tarde, trabalhando na Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, pude inclusive ver cartilhas que multinacionais produziam para orientar o procedimento "em caso de greve", com determinações que lembravam um estado de guerra, muito distante do respeito à negociação hoje conquistada.
Com certeza, muitos outros relatos virão sobre o tema, em especial daqueles que trabalharam nas múltis durante os anos mais cruéis da ditadura brasileira. Serão novos capítulos de uma longa noite, indispensáveis para o contar da História e – claro – para manter aceso seu lume.