domingo, 21 de agosto de 2011
Manuscritos na net
Velho Sylvio
A escola Sylvio Romero, uma das participantes do projeto citado abaixo, passou por diversas modificações desde sua criação (veja foto do prédio nos anos 50, da Fundação Pró-Memória de São Caetano). Perdeu muito de sua área verde e ganhou em anexos e salas de aula. Nos anos 70, o grupo escolar era também conhecido por 'Lixão', embora nenhum lixão existisse ali dentro, e o nível de ensino fosse muito bom - a referência, possivelmente, estava relacionada a um aterro que existira próximo. No grupo ministravam aulas professoras como dona Maria Ângela, dona Albertina e dona Maria Esther. Em seu entorno, além da padaria que ainda está lá, na esquina das ruas Vital Brasil com a Castro Alves, ficavam a farmácia do Seu Brás (ou seu Chico, o proprietário mais velho) e a papelaria da família Duran.
A história no fundo do baú
domingo, 14 de agosto de 2011
Mês de sobressaltos
Agosto 1964
Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.
Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógios de lilazes, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu a compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.
Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do terror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira
As vozes dos operários suspensas nas paredes
O destaque não foi grande, mas a imprensa noticiou na semana que passou a descoberta de mensagens deixadas pelos operários que construíram o Congresso Nacional. Na opinião da autora deste blog, um tesouro precioso, não só porque muito distante dos discursos vazios que por vezes enchem aquela casa, mas também porque, como garrafa no mar, busca um destinatário inexistente mas que pode fazer toda a diferença. Singelas e esperançosas, as frases são datadas de abril e setembro de 1959, poucos meses antes da inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960
Os escritos foram descobertos por causa de um vazamento no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Os operários deste tempo encontraram as mensagens de seus colegas do século passado, escritas nas paredes do local onde estava o vazamento. Aqueles que fizeram as frases possivelmente não imaginavam que seriam lidas, já que o local é fechado, sem circulação de pessoas – pelo divulgado, só duas delas estão assinadas. Talvez, inclusive, seus autores (como seria bom conhecê-los hoje, não?) tivessem medo que fossem lidas naquele momento. Deixaram, portanto, suas vozes suspensas nas paredes, uma mensagem para os brasileiros do futuro. Veja abaixo as frases encontradas:
"Se todos os brasileiros fossem dignos de honra e honestidade, teríamos um Brasil bem melhor"
"Só temos uma esperança, nos brasileiros de amanhã" 22/4/59
"Brasília de hoje, Brasil amanhã"
"Amor palavra sublime que domina qualquer ser humano" Nelson
"Saudade: palavra que nunca morre, quando morre fica arquivada no coração"
"Que os homens de amanhã que aqui vierem tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra" José Silva Guerra 22/4/59
domingo, 7 de agosto de 2011
Carros antigos na bodega
No estádio do Centenário, um especialista em futebol brasileiro
Uruguai, julho 2011
País das grandes planícies festeja bicentenário com o troféu da Copa América; ao olhar estrangeiro, a sensação de um povo carregado de esperança
Comemorações na Praça, com a presença de Mujica (de boina)
O Uruguai comemora neste ano seu bicentenário de independencia, e no último 18 de julho (data que dá nome a uma das principais avenidas de Montevidéu) o presidente da república José Mujica participou de solenidade comemorativa na Praça da Matriz. Ao observador estrangeiro, como esta autora, impressionou a absoluta ausência de ostentação, tanto no ato em si quanto na segurança. Caminhando pelo meio do público, ladeado de um pequeno grupo de aliados, Mujica não teve palanque nem foguetório. Igualmente singelas, as placas de reivindicações de aposentados ou em defesa da reforma agrária feitas em folhas de sulfite e escritas `a mão nem de longe lembravam as grandes faixas e balões das manifestações brasileiras contemporâneas. Coincidentemente, neste mesmo dia os jornais uruguaios traziam como manchete a morte do ditador e ex-presidente Juan María Bordaberry (1972-1976), que cumpria prisão domiciliar depois de ter sido condenado pelos crimes cometidos durante seu mandato.
`As vésperas de disputarem a final da Copa América, os uruguaios deram ao olhar estrangeiro a ideia de um país muito parecido com um Brasil dos anos 70, mas, talvez pela disputa próxima nos gramados, talvez pelos novos rumos adotados na política, de um nacionalismo intenso carregado de esperança. Ao menos no futebol, a torcida já deu certo, já que os uruguaios bateram os paraguaios na grande final. Tomara que os muitos ventos que navegam pelo caudaloso Prata tragam também aos habitantes daquele país de planícies sem grandes acidentes geográficos (o morro mais alto ali tem pouco mais de 500 metros de altura) o desenvolvimento esperado. Tomara. Porque assim merece o pequeno vendedor do mercado do Porto, cujo nome não soube mas será sempre o encantador ' Purf' , e toda sua geração.