domingo, 3 de julho de 2011

Fundação Pró-Memória: uma história de duas décadas


A Fundação Pró-Memória (FPM) de São Caetano do Sul comemorou em junho 20 anos. Preocupada com o resgate e a divulgação histórica, a entidade inaugurou a etapa com ações e projetos na versão digital (site remodelado, facebook, twitter) e a meta de conscientizar novas gerações sobre a importância de conhecer a própria identidade pelo acesso à história local e regional. Nessas duas décadas, a cidade que a abriga passou por grandes transformações - a mais recente, uma verticalização abrupta, fruto da especulação imobiliária que praticamente pôs fim à arquitetura dos casarões ajardinados e colocou abaixo uma de suas últimas salas de cinema. Mas, afirma a presidenta da entidade, há entre os motivos a comemorar o amplo trabalho realizado pela FPM, como a publicação da revista Raízes e duas dezenas de livros; a recente criação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Caetano do Sul (Conprescs) e o destacado interesse demonstrado pelos jovens em preservar a memória e a história do Grande ABC. Leia, abaixo e em Canções, Vídeos e Mais, a entrevista com a presidenta, exclusiva para este blog.

Memória e Sentimento - A Fundação Pró-Memória completa 20 anos. Que trabalhos e produções da entidade a sra. destacaria nestas duas décadas, e por que razões?
Sônia Xavier - A origem da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul está no Museu Histórico Municipal, que já completou 50 anos. Nestes 20 anos de atividade, podemos destacar muitas atividades, projetos e ações da instituição. A começar pela criação de um Centro de Documentação Histórica, na década de 1990, formado por documentos textuais, iconográficos, eletrônicos, fotográficos e audiovisuais, que conta ainda com uma biblioteca com cerca de 3.000 títulos, entre livros, jornais, revistas, teses e monografias. O Centro de Documentação é aberto ao público e funciona como fonte de pesquisas sobre a história local e regional. A criação da Raízes, revista de cunho histórico, também é uma das mais importantes ações da Pró-Memória. Publicada semestralmente, já conta com 42 exemplares editados e é muito procurada por leitores, apreciadores das histórias; (há) depoimentos, artigos, entrevistas e crônicas. O projeto editorial da instituição contempla ainda a edição de mais de 20 livros no decorrer destes 20 anos, de diferentes autores e sobre temas variados como a história, as artes e as tradições de São Caetano do Sul. A organização de reuniões, conferências e encontros locais, regionais, nacionais e internacionais, resultando em inúmeros documentos históricos, também marcaram a trajetória da Fundação Pró-Memória, assim como projetos de pesquisas e escavações arqueológicas no bairro da Fundação, resultando em uma vitrine demonstrativa dos alicerces da primeira igreja da cidade. Este período marcou ainda a organização de duas edições do Congresso de História do Grande ABC e a participação em todos os outros congressos ocorridos na região. Outro projeto que merece destaque é a organização de agenda histórica. Desde 2004, a Pró-Memória prepara uma agenda, com um tema específico que faz referência a algum aspecto da história da cidade, e que contém informações sobre as principais datas comemorativas da cidade e as mais significativas. Podemos dizer ainda que, nestes 20 anos, a Fundação Pró-Memória organizou mais de uma centena de exposições sobre diversos temas, sempre com o objetivo de resgatar e divulgar a história da cidade. Com certeza, um marco na história da instituição foi a realização do projeto Caminhos da Memória, que trabalhou com o patrimônio edificado local. Após um levantamento dos principais pontos de importância histórica para a cidade, cada local recebeu uma placa em cerâmica com as inscrições “Bem cultural de interesse histórico”. Para divulgar e levar ao conhecimento da população com o objetivo de sensibilizar a todos sobre a importância da preservação das edificações, realizamos três caminhadas históricas.

Memória e Sentimento - A sra. acredita que houve uma integração entre a FPM e a comunidade local (São Caetano e região)? Que tipo de iniciativas são realizadas com esse objetivo?
Sônia Xavier - Sim, creio. Houve e há integração entre a Fundação Pró-Memória e a comunidade. Nosso objeto de trabalho é o patrimônio cultural e o estímulo para o exercício da cidadania, para o desenvolvimento do sentido de pertencimento em tudo que existe no meio ambiente. A comunidade nos apoia nos diversos projetos que trabalham com História Oral, identificação de fotos, das rodas de lembranças com suas memórias e suas relíquias, e participando intensamente de cursos e palestras. As conquistas da Fundação Pró-Memória se sedimentam na interação entre a pesquisa científica, os memorialistas locais e regionais, os técnicos da instituição e os munícipes.

Memória e Sentimento
- Há uma renovação entre os memorialistas da região? De que forma o jovem é despertado para o estudo e preservação da história? Como a FPM colabora nesse sentido?
Sônia Xavier - Acredito que estão surgindo, na região, jovens cada vez mais interessados em cultivar a memória e a história do Grande ABC. Percebemos isso em nossos encontros e também nos artigos recebidos para publicação na revista Raízes, muitos escritos por jovens. Há uma preocupação da Fundação Pró-Memória em colaborar para o desenvolvimento do interesse pela memória em pessoas mais jovens. Para isto, procuramos as universidades e escolas locais para diferentes projetos e parcerias. Já realizamos um projeto chamado Museu na Escola, que levava exposições itinerantes para instituições de ensino municipais, estaduais e particulares. Atualmente, estamos desenvolvendo o projeto Vamos contar nossa História, que trabalha com a Educação Patrimonial como ferramenta de trabalhar com os alunos a importância do patrimônio material e imaterial e sua própria identidade.

Memória e Sentimento - São Caetano sofre uma grande mudança arquitetônica nessa década, com a proliferação de construções modernas e o fim dos velhos casarões ajardinados. Recentemente até mesmo um cinema de bairro, já fora de atividade mas com sua bela arquitetura preservada, foi demolido para dar lugar a mais um prédio (Cine Colonial, bairro Santo Antônio). A FPM tem alguma autonomia no sentido de sugerir a preservação destes espaços? Há ou houve alguma iniciativa nessa direção?
Sônia Xavier - Este espaço teve uma pesquisa e um projeto para transformação do local em um Centro Cultural que abrigasse uma sala de cinema, teatro, auditório e até outras linguagens culturais, o que foi obstado pela especulação imobiliária e por não termos ainda na cidade uma legislação de proteção aos bens culturais. Realizamos a pesquisa e divulgamos o valor dos bens históricos locais, tanto através de publicações, folders, impressos e jornais e colocamos placas indicativas sobre a história dos bens sinalizados. Sentimos também a grande transformação da paisagem urbana e temos procurado trabalhar o valor do patrimônio material com a população, tentando ampliar a consciência das pessoas e o seu papel como cidadãos. Com a criação, recentemente, do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Caetano do Sul- Conprescs, e com a Fundação Pró-Memória fazendo parte dele, acredito que várias ações mais efetivas serão realizadas neste sentido.

Leia o restante da entrevista em Canções,vídeos e mais